4 de maio de 2012

As Almas Perdidas - Enseada

A loucura leva minha alma para dentro deste mar sombrio e faz-me querer levar comigo tudo que me é valioso e afogar sob este tenebroso lençol d'água cada alma que amo. Mas a morte e a solidão me acompanham de perto e os demônios do suicídio me lambem as orelhas, me seduzem e apontam para meu inevitável destino.


Corpos cianóticos flutuam na espuma rubra das vagas turbulentas e o anjo negro da morte se banqueteia com a orgia de almas perdidas. Criaturas cujas vidas a dor abraçou e sorveu num beijo longo e dolente.

Num canto da enseada ouço vozes sombrias num clamor infindável me chamando para junto delas, mas se fazem fortes os dedos corroídos dos anjos demoníacos em meus braços. Estes me agarram e arrastam para o mar, aqueles alçam inda mais alto suas vozes. Por certo não acreditaria em tal história se meus olhos não tivessem, por desgraça dos céus que me abandonam, visto a cena horrenda que nas areias se descortinava. Eram seres de uma época esquecida, fantasmas de um medo arcano e eles cobriam com suas asas apodrecidas as almas malditas.

O pavor que em minha alma se avoluma fez brotar o desejo incontrolável de deitar em mansidão nesta espuma rubra e me entregar aos braços do anjo negro.
No entanto, a vida que em minhas veias pulsava ainda, diz a minha ao meu espírito: Levante-se! Levante-se e fuja para onde as colinas se inclinam nesta enseada. É lá que haverá o teu destino. É lá que encontrarás outro fado que não este.

De súbito me ponho de pé e sinto as garras afiadas dos demônios me rasgarem a pele, mas nenhuma dor pode ser maior do que aquela preparada para mim pelos filhos do príncipe das trevas.

Assim me pus a correr. Às colinas! Às colinas! Preciso chegar às colinas...   



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