Augusto Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914) nasceu na Paraíba no engenho de Pau d’arco, Vila do Espírito Santo. Filho de donos de engenho, ele vivenciou a decadência da antiga estrutura, substituída pelas usinas de cana-de-açúcar. Forma-se em Direito em Recife, mas retorna à Paraíba, indo lecionar Literatura Brasileira em João Pessoa.
Há quem diga que o poeta fazia poesia com “bula de remédio” ou com descrições originadas em aulas de Anatomia Humana. Isso se deve ao fato de o poeta adotar o vocabulário das ciências biológicas para falar da morte, da decomposição da matéria, expressando uma versão trágica da existência.
“Ah! Para ele é que a carne podre fica,
E no inventário da matéria rica
Cabe aos seus filhos a maior porção!”
E no inventário da matéria rica
Cabe aos seus filhos a maior porção!”
(“O Deus-Verme”)
Através de uma poesia formalmente trabalhada, numa linguagem cientificista-naturalista, ao lado de uma poesia sem rodeios, objetiva, Augusto dos Anjos atingiu uma popularidade incrível. Nela, ele exprimia seu “pessimismo”, sua angústia diante dos problemas pessoais e a incerteza diante de um novo século e uma Guerra Mundial emergente. Daí a constância do tema “morte” e, após ela, nada mais além da desintegração e dos vermes:
“E, em vez de achar a luz que os Céus inflama,
Somente achei moléculas de lama
E a mosca alegre da putrefação!”
(“Idealização da Humanidade Futura”)
Somente achei moléculas de lama
E a mosca alegre da putrefação!”
(“Idealização da Humanidade Futura”)
Usando de forma inusitada palavras estranhas até então consideradas “inadequadas” para a construção da grande poesia, Augusto dos Anjos criou grandes efeitos sonoros e rítmicos: a musicalidade, um de seus dotes mais admirados, exerce forte influência em nossa sensibilidade. Mesmo talentoso, o poeta falece aos 30 anos, em 12 de novembro de 1914, dez dias após uma forte gripe em Leopoldina, Minas Gerais, onde assumiria a direção de um grupo escolar.
Versos Íntimos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de sua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Enterro de sua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Abordagem biográfica
O aspecto melancólico da sua poesia, que a marca profundamente, é interpretado de diversas maneiras. Uma vertente de críticos, na qual se inclui Ferreira Gullar, fundamenta a melancolia da obra na biografia do homem Augusto dos Anjos. Para Gullar, as condições de nossa cultura dependente dificultam uma expressão literária como a de Augusto dos Anjos, em que se rompe com a imitação extemporânea da literatura européia. Essa ruptura de Augusto dos Anjos ter-se-ia dado menos por uma crítica à literatura do que por uma visão existencial, fruto de sua experiência pessoal e temperamento, que tentou expressar na forma de poesia. A poesia de Augusto dos Anjos é caracterizada por Gullar como apresentando aspectos da poesia moderna: vocabulário prosaico misturado a termos poéticos e científicos; demonstração dos sentimentos e dos fenômenos não através de signos abstratos, mas de objetos e ações cotidianas; a adjetivação e situações inusitadas, que transmitem uma sensação de perplexidade. Ele compara a miscigenação de vocabulário popular com termos eruditos do poeta ao mesmo uso que faz Graciliano Ramos. Descreve ainda os recursos estilísticos pelos quais Augusto dos Anjos tematiza a morte, que é personagem central de sua poesia, e o compara a João Cabral de Melo Neto, para quem a morte é apresentada de forma crua e natural.
Abordagem psicanalítica
Outros, Como Chico Viana, procuram explicar a melancolia através dos conceitos psicanalíticos. Para Sigmund Freud, a melancolia é um sentimento parecido com o luto, mas se caracteriza pelo desconhecimento do melancólico a respeito do objeto perdido. A origem da melancolia da poesia de Augusto dos Anjos estaria, para alguns críticos, em reflexões de influências politica com os problemas de sua família, e num conflito edipiano de sua infância.
Abordagem bloomiana
Há ainda aqueles que tentam analisar a poesia de Augusto dos Anjos baseada em sua criatividade como artista, de acordo com o conceito da melancolia da criatividade do crítico literário norte-americano Harold Bloom. O artista seria plenamente consciente de sua capacidade como poeta e de seu potencial para realizar uma grande obra, manifestando, assim, o fenômeno da "maldição do tardio". Sua melancolia viria da dificuldade de superar os "mestres" e realizar algo novo. Sandra Erickson publicou um livro sobre a melancolia da criatividade na obra de Augusto dos Anjos, no qual chama especial atenção para a natureza sublime da poética do poeta e sua genial apropriação da tradição ocidental. Segundo a autora, o soneto é a égide do poeta e, munido dele, Augusto dos Anjos consegue se inserir entre os grandes da tradição ocidental.
Downloads:
Eterna Mágoa - pdf
Eu - pdf
Outras Poesias - pdf
Eu e Outras Poesias - pdf
Fontes:
Autora do texto principal - Paula Perin dos Santos:
http://www.infoescola.com/autor/paula-perin-dos-santos/54/
http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Augusto+dos+Anjos<r=a&id_perso=252
ANJOS, Augusto dos. Toda a poesia. 2 ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978.
Autora do texto principal - Paula Perin dos Santos:
http://www.infoescola.com/autor/paula-perin-dos-santos/54/
http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Augusto+dos+Anjos<r=a&id_perso=252
ANJOS, Augusto dos. Toda a poesia. 2 ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978.
NICOLA, José de Nicola. Literatura Brasileira: da origem aos nossos dias. 6 ed. São Paulo, Scipione, 1987, p. 157-159.
TUFANO, Douglas. Estudos de Literatura Brasileira. 3 ed. São Paulo, Moderna, 1985, p. 99.
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