CAUSA
MORTIS
Assolam inclementes nas
colinas lúgubres,
Os ventos do desgosto
das alegrias de outrora
Esvaziam de meu peito
os insignificantes amores
Que nesta existência
me serviam por aurora.
Oh! Como é sombrio o anoitecer
nestas paragens
Que há de ser agora,
de minhas ilusões?
Estas frias
estátuas... Minhas quimeras... Miragens...
Que há de ser de
minha vida nestes rincões.
Aqui desvanece de
minh’alma todo o engodo.
Vem deveras hoje ó
morte e leva-me em teu logro.
Arremate este meu
quadro tétrico
Que com tanto ardor
elaboras em esboço
A minha débil figura.
Mostre-me aos olhos
de todos cadavérico,
Esquálido, exaurido
de minha própria esperança
Retrato fiel de minh’amargura.
Joga-me enfim aos
braços do purgatório
Esqueças-me por ali
Não quero ouvir dos viventes
seus cantos funerários,
Do livro sacro seus
salmos de profundis.
Esqueças-me e não me
deixes sair,
Senão para ver do
horizonte o fulgurar etéreo.
Melhor que nestas
serras
É estar prostrado num
cemitério.
Mas, faz-se
insensível à minha petição
Esta donzela funesta,
descarnada.
Afasta-se de mim e
leva contigo meu coração
Afasta-se... Mas,
leva por obséquio esta alma condenada.
Deus nobis haec otia fecit*
*Deus
nos concedeu esse descanso. Palavras com que Virgílio nas Éclogas agradece
a Augusto. São quase sempre empregadas satiricamente.