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9 de novembro de 2010

Demonolatria 2ª parte

Na postagem anterior sob o título Demonolatria eu abordei, com base no texto traduzido por Ligia Cabus, a questão da origem da adoração do Mal como sendo anterior a adoração do Bem, nesta continuação veremos que práticas de adoração ao "Mal" estão presentes, ou pelo menos podem ser percebidas como características cerimoniais mórbidas, até mesmo em cerimônias de adoração ao bem atualmente, como remanescentes de uma idéia de apaziguamento do mal.

As antigas e clássicas civilizações também carregam esse feio passado em sua história (a saber o sacrifício humano). Os sacrifícios humanos são freqüentemente mencionados na Bíblia. Como no episódio do rei de Moabe (2ª Reis, 3:26,27).


"Quando o rei de Moabe viu que a batalha se mostrou forte demais para ele, tomou consigo imediatamente setecentos homens que puxavam da espada para romperem até o rei de Edom, mas não puderam. 27 Por fim tomou seu filho primogênito que ia reinar em seu lugar e o ofereceu como sacrifício queimado sobre a muralha. E veio a haver grande indignação contra Israel, de modo que se retiraram de ir contra ele e retornaram ao seu país.".

Os profetas pregaram muitas vezes contra a prática pagã entre israelitas que, imitando a religião de seus vizinhos, sacrificavam seus filhos e filhas aos demônios ou então faziam-nos passar através do fogo de Moloch (ou Moloque), para serem devorados pelas chamas.

Moloque era uma deidade especialmente associada com os amonitas (habitantes da terra de amon); possivelmente o mesmo que Milcom. No livro bíblico de Jeremias 32:35, Moloque é mencionado em paralelo com Baal, o que sugere, se não uma identificação, pelo menos alguma relação entre os dois. Diversas autoridades consideram “Moloque” mais como título, em vez de como nome duma deidade específica, e, portanto, apresentou-se a idéia de que a designação “Moloque” talvez tenha sido aplicada a mais de um deus.

Link para o site de origem da imagem de Moloque. (site em inglês)







As nações mais civilizadas do mundo preservam em suas mitologias a memória de, em um tempo primitivo de seu desenvolvimento religioso, imolarem seres humanos para tornar propícias as divindades irritadas. Quando Atenas estava no auge de sua glória, Eurípedes [485-406 a.C. ─ dramaturgo grego] representava o drama do trágico destino de Polixena, que foi sacrificada sobre o túmulo de Aquiles para acalmar o espírito do herói morto assegurando, deste modo, um retorno seguro dos guerreiros gregos.


Os sacrifícios humanos são uma característica central na adoração aos "demônios", mas não é única. Existem outras práticas diabólicas baseadas na idéia de que este tipo de deidade tem prazer em testemunhar a tortura e a maior das abominações, o canibalismo. O canibalismo, como explicam os antropólogos, jamais resulta de uma escassez de comida; não. O canibalismo não é uma simples refeição. Antes, é um ritual religioso, justificado por superstições, crenças, especialmente a idéia de que partilhar [como lanche...] o coração ou o cérebro do adversário proporciona absorver a coragem, a força e outras virtudes do sacrificado. Seriam os rituais antropofágicos, presentes também, pelo menos no passado, na tradição cultural de tribos indígenas brasileiras. (Nota pessoal do autor deste blog)





Esta relação entre comer o semelhante para apoderar-se de suas virtudes, esse pensamento que implica práticas tão brutais, ainda permanece diluída na simbologia mais importante da religião mais poderosa do planeta: o cristianismo. Em particular, o cristianismo católico, com sua cerimônia da Transubstanciação: o pão no corpo, o vinho no sangue de Jesus. Ainda que os padres apelem para todas as justificativas, sejam teológicas, semióticas ou simplesmente misteriosas, essa referência ao beber sangue e comer o corpo é, no mínimo, uma coisa mórbida. A inocente transubstanciação operada nas missas serve como péssima inspiração para a deturpação da prática dando origem a seitas instituídas por psicopatas-criminosos de todo tipo. A Religião nasceu do medo. A religiosidade dos selvagens demonstra isso muito bem. O medo do mal é notável e, por isso, os primeiros esforços foram feitos no sentido de estabelecer uma relação amigável com os agentes do Mal, e não do Bem; porque o Bem não causa transtornos. A demonolatria existe hoje. Está nas manchetes policiais do mundo inteiro; e vai continuar existindo até que o senso comum do homem mediano perceba ou resgate o significado das palavras e a delicada relação ontológica* entre o Bem, o Bom e o Belo.
*Ontológica:Referente à ontologia: ciência que investiga a natureza do ser enquanto ser, considerado em si mesmo, independente da matéria e
das especulações acerca da essência, substância e acidentes.

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