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12 de abril de 2011

As "Trevas" de Caravaggio

A arte está repleta de exemplos de pintores e outros artistas que tiveram como inspiração o lado mais obscuro da vida. Um desses artistas foi Caravaggio. O seu nome real foi Michelangelo Merisi da Caravaggio ele nasceu em 1571, e o nome Caravaggio é referente à cidade em que viveu. Por muitos anos acreditou-se que o artista teria nascido nesta cidade, mas hoje muitos historiadores trabalham com a hipótese de sua cidade natal ser Milão. Foi somente em 1576 que a família se mudou para a vila de Caravaggio, com a intenção de fugir da peste que assolava Milão. Conhecido como um artista “tenebrista”, cujo estilo de pintar mesclava fundos negros com focos de luz intensa, ficou famoso, também, por seu gênio tempestuoso.

Os quadros de Caravaggio contêm traços de uma existência intensa e turbulenta, apresentando cenas religiosas com violência e crueldade, como em “A Decapitação de São João Batista”. O forte contraste entre os fundos escuros (as “trevas”) e os personagens banhados por uma luz que incide forte e dramática, típico da técnica do “claro-escuro”, é a principal característica das obras do artista, marcadas também por um forte realismo na caracterização dos personagens, suas veste e objetos que o cercam.

Seu pai morreu quando ele tinha apenas seis anos; a mãe quando tinha 18. Alguns anos antes, aos 12, o então jovem artista ingressava como aprendiz no estúdio do pintor milanês Simone Peterzano. Após a morte da mãe, Caravaggio herdou parte da propriedade da família. Foi com o dinheiro da venda dessas terras que ele partiu para Roma. Lá, passou a conviver com artistas plásticos e arquitetos vindos de toda a Itália, numa época em que a Contra-Reforma católica incentivava a construção de novas igrejas e os trabalhos de decoração nos templos eram fartos.


A Ressurreição de Lázaro obra datada
de 1608-1609. No quadro os modelos
teriam sido forçados por Caravaggio
a posarem carregando um cadáver.

Caravaggio teve uma vida curta: não chegou aos 40 anos e viveu a maior parte desse tempo em Roma. Após um período inicial de miséria, quando chegou a fazer pinturas em série para vender nas ruas, passou a trabalhar para o Cardeal Del Monte, clérigo sofisticado e rico, patrono da escola de pintores de Roma, a “Academia de São Lucas”. Com um aposento no “palazzo” do Cardeal e uma pensão regular, Caravaggio passou a pintar vários quadros de rapazes com traços femininos, já que Del Monte, secretamente, apreciava jovens desse tipo.

Até fugir de Roma devido uma briga, Caravaggio realizaria uma série de importantes quadros de temática religiosa, muitas vezes feitos diretamente nas paredes das novas capelas que eram erguidas. Ao recusar-se a pagar uma aposta perdida, o genioso pintor brigou com um certo Ranuccio Tommasoni, que não resistiu aos ferimentos. Começaria então o período final de sua vida, quando viveu em Nápoles, Malta, Siracusa, Messina e Palermo, geralmente fugindo de um lugar para outro devido a desavenças e perseguições.

Morreu aos 39 anos, a poucos quilômetros de Roma, mas sem ter retornado à cidade, já que não havia conseguido o perdão papal para voltar. O artista Giovanni Baglione, que anos antes o havia processado por ofensa, narrou seus últimos momentos: “Foi colocado numa cama, com febre muito forte, e ali, sem ajuda de Deus ou de amigos, morreu depois de alguns dias, tão miseravelmente quanto viveu”.

A Morte da Virgem datado de 1604 exposto no museu do LOuvre em Paris
observe na cena o ventre levemente inchado da modelo deitada. Isso
seria causado, supostamente, pelo fato de ela estar morta de verdade.
Algumas curiosidades a respeito da vida de Caravaggio merecem ser mencionadas. Neste ponto não me refiro apenas às inúmeras vezes em que o artista teve de ser levado à prisão por conta de seus acessos de ira que acabavam por levá-lo a arremessar pedras em quem passasse abaixo de sua janela em Roma, nem pela rapidez com que terminava suas obras. Refiro-me ao hábito do artista de utilizar como modelos para seus quadros corpos de pessoas mortas. em pelo menos duas ocasiões isso ocorreu. Por exemplo, na tela denominada - muito convenientemente - "A Morte da Virgem" comenta-se que Caravaggio teria usado como modelo o corpo de uma prostituta que teria sido encontrada morta no Rio Tibre, cujo corpo já começava a apresentar sinais internos de putrefação uma vez que seu ventre já estava inchado.
Já em outra tela chamada “A Ressurreição de Lázaro”, os modelos teriam sido obrigados pelo próprio artista, que os ameaçava com um punhal, a posar carregando um cadáver de verdade.

Quanto a veracidade destas afirmações em muito não há como ter certeza de que sejam reais. O que, no entanto, podemos afirmar é que as inúmeras obras deste artista cuja maior característica é o uso constante do claro-escuro "chiaroscuro", faz de seus quadros excelentes exemplos do "mergulho" que o artista consegue fazer nos ambientes sombrios e melancólicos da alma humana. Talvez possamos até mesmo arriscar dizer que o artista, num presságio da efemeridade de sua vida, derramaria em suas obras toda a violência, dor e dramaticidade que viria a enxergar no mundo de seu tempo.

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