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16 de maio de 2010

O LICOR DA IMORTALIDADE




Não é de hoje que os homens buscam formas de preservar e prolongar sua saúde, juventude ou vida pela eternidade - ou pelo menos durante o maior tempo possível - ao longo da história da humanidade diversos ingredientes já foram utilizados como elixir da vida eterna desde esterco de animais até o hoje conhecidamente venenoso mercúrio. Dentro deste debate não podemos esquecer, claro da alquimia que durante longo tempo na Europa foi conhecida como a detentora do segredo da pedra filosofal, curiosamente um líquido cujas propriedades mágicas encerravam também o segredo da vida eterna tendo em Nicolas Flamel um dos seus maiores expoentes.




Das inúmeras referências que eu poderia usar me chamou a atenção uma prática de certos monges do extremo oriente nas cordilheiras do Himalaia cujas descrições que transcrevo abaixo retirei de um livro de tema vampírico - vampiros aliás que mantêm-se vivos graças ao sangue de suas vítimas, seu "licor da imortalidade" pessoal.



"Nas neves do Tibete e de Bouthan, nas cavernas do monte Kailasha – onde ainda hoje vivem devotos do deus Shiva – velhos monges-férus da magia negra preparam uma original bebida a que chamam «licor da imortalidade». Estes ascetas fazem horríveis experiências para se tomarem imortais. Eles não vivem à luz, nem no esplendor dos ascetas da Índia; basta vê-los nas aldeias de Cachemira ou em Bouthan.
As caras deles são autênticas máscaras da morte, «olhos flamejantes», e as vozes são cavernosas, como -que vindas do fundo de um terrífico abismo (dizem-no os guias da montanha). As portas fecham-se à sua passagem. Certos turistas vindos de Kallasha comentam as suas monstruosas técnicas de atuação.
Dizem que em algumas grutas se encontra a cave dos rituais, onde sobressai a meio uma mesa de pedra retangular. O tampo da mesa está cheio de vários e largos orifícios. Para alguns esotéricos, esta mesa mágica é dedicada ao deus da montanha mas não servirá somente para honrar os demônios subterrâneos. Ela é também uma mesa de oferendas e transformação.
Todas as descrições feitas pelos que voltavam das cavernas do Himalaia permitem imaginar a cena: o sumo-sacerdote Bom, assim que entra na cave mágica, deixa cair as suas roupas e aparece nu esquelético. Pega numa colher de forma redonda, mas com um cabo muito comprido e mergulha-a num dos tais buracos existentes no tampo. Extrai de lá algo com que esfrega várias partes do corpo, friccionando-se e recitando salmos ao deus dos mortos.
«Esta é a verdadeira bebida da imortalidade», diz ele. «A vitalidade dos homens novos e robustos está dissolvida aqui. Ela seria mortal caso não se tratasse de um iniciado, para o qual se tornará uma fonte de inesgotável energia. Desta forma, o mais graduado suplantará os deuses... »
O feiticeiro leva a colher à boca e engole o líquido. Em certas aldeias do Himalaia conta-se que a mesa é oca. No interior, os Bons colocam homens que eles escolhem para o sacrifício, que, deixando-se morrer de fome começam lentamente a decompor-se. Os cadáveres nunca são removidos dali. De vez em quando, um monge junta àqueles um homem vivo. O líquido resultante das carnes putrefatas será a bebida da imortalidade, o suco da morte, por assim dizer, pois que alguns monges morrem envenenados. Encontram-se os corpos deles ao fundo das grutas, e a superstição local considera-os vampiros, «não mortos», rakshasas.
Os rakshasas são os vampiros da magia indiana. São cruéis e ferozes. Acusam-nos de tudo devorar, queimar e ferver.» Os longos caninos fazem lembrar vampiros..."


TRECHO RETIRADO DO LIVRO DE


JEAN-PAUL BOURRE
OS VAMPIROS
(1986)
PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA

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